domingo, 31 de janeiro de 2010

SEI LÁ...

O que parece algodão é duro.
O que parece ser prêmio, é ônus.
O que parece prazer, martírio.
O que parece ser belo, é oco.
O que parece serpente é fio.
O que parece ser frio, é crente.
O que parece ter fé, embruste.
O que parece feliz, derrete.
O que parece viver, declina.
O que parece não ser, domina.
O que parece dormir, alerta.
O que parece mentir, acerta.
O que parece gentil, golpeia.
O que parece feroz, carinha.
O que parece sem voz, diz tudo.
O que parece pesar, flutua.
O que parece vestir, desnuda.
As certezas,
ocultas
sob icebergs.
O obvio
não se esconde.
Mas
sei lá...

domingo, 24 de janeiro de 2010

A VIDRAÇA

O ser humano é um animal político.
Mas não sei se o político é um animal humano.
Fico olhando do lado de lá da vidraça.
Vejo que tem boas pessoas também.
Pessoas de fino trato, sensíveis, humanas.
Porém, as pessoas do outro lado da vidraça,
me vêem como rato, formiga, inseto,
bom de se esmagar, de se pisar, de se apagar.
Há os políticos da dialética, que aleijam com palavras.
Há os políticos da coação, que se usam da chantagem.
Há os políticos da calada, que matam e torturam
se necessário.
Há os políticos aparentemente éticos, benfazejos, transparentes,
mas mesmos estes, exercitam a prática de odiar
quem está do outro lado da vidraça.
Os políticos precisam de alguém pra odiar.
As pessoas precisam de alguém pra odiar.
Que Deus nos proteja.


sábado, 23 de janeiro de 2010

FRAGMENTOS DE SAUDADES

Das conversas na porta do chiquito, de madrugada,
olhando desconfiado para a cruz defronte a igreja do Rosário.
Das serenatas noite à dentro, com neblina de cortar com faca.
Do doce de Mamão com Rapadura da Julieta do Passarinho.
De Zé de Chico passando de madrugada,
com rádio ligado, ouvindo rádios estrangeiras.
Do padeiro passando de manhãzinha e gritando:
Aoooo padeiro!
Das caminhadas pelas cercanias da cidade,
com Luizim Parreco, Junim do Alvinews, Rogério e outros.
Do futebol no campinho da rua de cima,
da turma que chegava as 7 da manhã
e ficava que nem churrasquinho,
rodando em volta de uma fogueira,
procurando um pouquinho de luz
pra quentar sol.
Da meninada quicando
a bola de capota no chão
e gritando: Olha a bola...
Do barulho da bola batendo
dentro do rêgo no fundo dos quintais.
Dos sinos do relógio da matriz,
metrônomo das nossas vidas.
Do sorvete no bar 2001,
numa época em que não havia kibon
nem nestlé.
Dos parques de diversão e circos,
do cinema do seu Miltinho,
do Celmo
e todos os cineminhas
de caixinha de sapato.
Do grande The Big,
o maior campeonato
de futebol de botão do planeta,
que acontecia na casa do Marcelo Xuxa.
Da grama da praça da baixada,
dos tempos em que havia grama,
quando dava pra deitar e rolar.
Do refresco de Abacaxi do Muado.
De todas as sinuquinhas da cidade.
De minha mãe,
a pessoa mais delicada do mundo.
Do meu pai,
a pessoa mais honesta do mundo.
Dos meus irmãos
( anéis mágicos, entrem em ação)
Dos meus parentes italianos,
falantes, bravos
e extremamente criativos.
Dos parentes
Carvalho Souza Abreu Lima,
pioneiros, unidos e tradicionais.
Dos amigos todos,
que gostaria de abraçar e abraço agora,
pelo menos metafisicamente.
Do que eu fui
e que ainda sou,
pelo menos enquanto escrevo.
Dizem que na hora da morte,
a gente revê toda a vida.
Então,
morro um pouquinho todo dia,
pois tenho meus feedbacks
induzidos.
Dizem que não existe o passado.
Só o presente - que já é passado - e o futuro.
Se o passado é uma ilusão, vivo a ilusão.
Não do que virá...mas do que se foi.
É como se fosse uma fonte
onde vou buscar poesia
pra regar a aridez
da rotina.

domingo, 10 de janeiro de 2010

ALMAS DE ALUGUEL

Não sejamos hipócritas. De certa forma, somos todos mercenários. Uma vez empregados de alguém, estamos alugando as almas para esses patrões. Existe o termo “vender a alma ao diabo”, de tantas histórias e estórias, mas no nosso caso, acho o termo alugar mais apropriado. Na verdade, fazemos as vontades dos contratantes com prazo de validade e condições estabelecidas. Caso os termos acordados sejam rompidos, fica desfeito o contrato e cada um segue o seu caminho. A questão é que ao alugarmos nossas almas ou nosso trabalho para alguém, estaremos lutando por esse contratante em suas guerras pessoais, sejam guerras comerciais, políticas, jurídicas, enfim. E dependendo de nosso envolvimento, de nossas atitudes, ficaremos marcados pelos grupos adversários, que tentarão cortar nossas cabeças na primeira oportunidade. Não estou dizendo que deva ser diferente. Nem sei se dá pra ser. A ética é uma palavra bonita, mas na competição, na concorrência o que vale mesmo é o salve-se quem puder. Existem até algumas pessoas que conseguem jogar em vários times, fazer jogo duplo, triplo, múltiplo e pelo menos “fingir” que está tudo bem e que apóia todo mundo. Para essas pessoas, o negócio é deixar do jeito que está pra ver como é que fica ou torcer para que tudo exploda, para depois lucrar com os despojos. Há também os que procuram realizar seus trabalhos de forma fria ,profissional, porém sem vestir a camisa dos que lhe pagam, procurando manter a neutralidade até para não se comprometer, ficar em cima do muro e deixar todos os caminhos abertos. Eu não penso e nem consigo agir assim. Uma vez numa luta, não tenho medo de me expor. Além do mais, os afins se atraem. Intuo que o destino me levará para o lado certo, o lado do bem comum, o lado certo da força. Rezo todo dia pra isso.

OS SANTOS DE HOJE!

Durante muitos anos, o vaticano tinha a primazia sobre as santidades.

Apenas os papas podiam definir quem iria ou não ser chamado de santo.

Só que o tempo passou e depois de reformas e contra-reformas mil, os santos padres perderam seus poderes, suas prerrogativas históricas.

Outra coisa interessante é que na idade média, até em grande parte da vida contemporânea, os critérios para se chegar à santidade eram principalmente a virtude, o sacrifício, a penitência.

Pois nos novos tempos, as coisas mudaram radicalmente.

Quem passou a determinar quem vai ou não vai ser “santo” é a mídia.

Mas muitas diferenças aconteceram.

Em primeiro lugar, as santidades de hoje não precisam de virtudes.

Até a nomenclatura mudou. Santo hoje é sinônimo de celebridade.

Esses bbbs de tempo integral, nem se importam com perenidade.

Querem sucesso imediato, descartável, serem adorados por pouco tempo.

Precisam é manter-se no foco, na mídia, na moda.

Precisam ter uma vida social pública, cheia de escândalos e lances polêmicos.

Se for mulher, deverá ter disposição pra posar nua pra revista masculina.

Se não tiver um corpo perfeito, nada que um bom photoshop não resolva.

Se for homem, será um pouco mais difícil.

Agora, vamos e convenhamos.

Nos tempos atuais, se tem uma pessoa que merece ser canonizada é o Lula.

O nosso presidente tem uma trajetória próxima de uma saga, um ser humano que saiu de baixo, encarou a hipoteticamente impossível escalada da ascensão social nesse pais de castas sublimadas. Além do mais, é um autodidata chefiando milhões de PHDs, de doutores, sociólogos, especialistas, teóricos, sábios e sabiás. Um orador capaz de hipnotizar platéias, negociador habilidoso, que teve o dom para retirar o Brasil do terceiro mundo e elevá-lo a algo próximo do primeiro.

Pode ser que a história prove o contrário, principalmente porque ela costuma ser reformada pelos detentores do poder. Então, vamos nos aproveitar do santo enquanto ele vive.

Depois, o Padre Cícero que se cuide!

BOM GOSTO É O MEU!


Bom gosto é o meu.
Parece arrogancia,
mas é constatação.
Minha língua me diz
o que é agradável ao paladar.
Meus ouvidos sabem o que lhes agrada.
Meus olhos reconhecem a beleza.
Meu olfato aprecia bons perfumes.

Mas percebi
que ela não gosta de cebola.
Também não gosta de jazz.
Usa roupas estranhas
e detesta perfumes.
Ela deu um cheque no bom gosto
que eu pensava que tinha.

Ela gosta de comida japonesa,
de bossa nova,
de alta costura
e de um incenso suave
de vez em quando.

Pensei comigo:
- Meu Deus, meu bom gosto era falso!
Fui me moldando ao bom gosto dela
e deixei o meu guardado
numa gaveta qualquer.

Dizem que o bom gosto
vai mesmo mudando com o tempo.
Vamos acumulando milhas e refinando.
Depois de aprender muita coisa no convívio,
de estudar por vários anos,
acontece até de nos lapidarmos
e do nosso bom gosto ficar...
internacional.

Também acontece diferente.
Muitas vezes a pessoa
fica muito rica
da noite pro dia,
mas continua com o gosto popular,
comprando aparelho de som de ponta
pra ouvir Axé, Funk ou Sertanejo.

O menu do novo rico
será ainda de peão.
Churrasco, cerveja e cachaça.
Qualquer coisa faz lipo
e volta pra mesa.
São pessoas que detestam poesia
ou algum tipo de intelectualismo.

É um problema.
Quanto mais a gente evolui,
quanto mais nos informamos,
quando mais nos aprofundamos
nas verdades do mundo,
mais nos afastamos
do bom gosto comum.

E se dissermos que não gostamos
de música sertaneja
ou outro gênero,
quem aprecia vai dizer
que temos mal gosto.

Mas é isso mesmo.
Tudo normal,
mas de uma coisa eu tenho certeza:
Bom gosto é o meu!

domingo, 3 de janeiro de 2010

O RELÓGIO DE JÚPITER


Há algum tempo atrás, me disseram que em Júpiter o dia tem 51 horas.

Me lembrei disso e fiquei sonhando em adquirir um relógio daquele gigantesco planeta, pra ver se estico o meu dia um pouco.

Desde que assumi novas atribuições, o dia terráqueo de 24 horas não tá dando pro gasto.

Trabalho 25 horas por dia e sempre fico devendo.

Pela primeira vez na vida, tô devendo leituras e respostas de emails, não venho postando em meus blogs com a regularidade habitual, não estou tendo tempo de observar as paisagens, de ler, de navegar a esmo pela net, de me exercitar, de ouvir músicas, de dormir, de outras coisas que nem ouso falar.

Aí, fiquei pensando no relógio de Júpiter. Um dia de 51 horas seria ideal pra mim.

Porém, se for pensar nos projetos que almejo realizar, pode ser que 51 horas não sejam suficientes. O pior é que tenho pressa em realizar meus planos, para assim contrariar os que me chamam pejorativamente de sonhador.

sábado, 2 de janeiro de 2010

ESTÁTUA PARA JOSÉ SANTANA

Já está na hora de Alvinópolis reconhecer o valor de seu maior homem público de todos os tempos: José Santana de Vasconcellos. Compreendo até que o nosso prefeito João Galo Indio tenha lá os seus comprometimentos políticos, seus parceiros já alinhavados, mas nem ele pode negar a importância desse Alvinopolense de relevencia para a história do nosso estado. A biografia de Santana dispensa comentários. Por várias vezes deputado estadual e federal, presidente da assembléia do estado em dois mandatos, muitos e muitos projetos aprovados para Alvinópolis, como por exemplo, o asfaltamento da estrada que nos liga a capital do Estado. Tenho acompanhado a discussão em torno da estátua do Dr. Mário, que deveria ser colocada no meio da praça São Sebastião, no lugar daquela obra abstrata, que também considero imprópria por não significar nada, uma vã tentativa de demarcar um território. Mas me permitam discordar sobre a colocação de uma estátua do Dr Mario ali. O Dr. merece sim uma homenagem, mas em um lugar que tenha a ver com seu perfil. Ficaria bem por exemplo na praça Bias Fortes, mais próxima do Hospital ou até mesmo defronte a um dos postos de saúde da cidade, mas não na praça da baixada. A praça merece uma estátua do Santana de corpo inteiro, sorridente e acenando positivamente para quem chega. O prefeito não precisa se preocupar , pois Santana desta vez nem é candidato. Tenho certeza de que o candidato que ele apoia não ficará chateado. Pelo contrário, deve ser convidado, juntamente com todos os prefeitos e autoridades da região para a inauguração do monumento em homenagem a um Alvinopolense que tanto fez pela nossa cidade. Penso que uma homenagem como essa, deveria vir acompanhada de um livro, uma biografia do nosso nobre deputado contando passagens importantes de sua vida, passando importantes lições para os políticos mais jovens e nos brindando, tenho certeza, com histórias deliciosas dos bastidores da política mineira. Eu já até me ofereci para gravar várias seções de entrevistas com ele, de maneira a reunirmos subsidios para darmos forma a esse livro. Talvez eu nem seja digno de tal intento. Imagino que ele tenha parceiros escritores, poetas, beletristas muito mais credenciados que eu, mas de qualquer maneira, espero que ele não negue isso para o mundo.

O VERDETERROSSAURO

Muitos vão torcer o nariz para o que escrevo. Não é pra esgotar o assunto, mas sim para esclarecer sobre uma coisa que me incomoda bastante. Seria bastante simplista dizer que não tenho vontade de levar adiante o projeto do CD com as músicas do Verde Terra. Acho que as músicas são bastante representativas, que o Verde Terra fez história durante sua época, que algumas canções são até muito atuais. Mas o que me frustra é que não consegui um meio de viabilizar o trabalho. Pra começo de conversa, jamais conseguimos dinheiro para tocar o projeto. Já tentei buscar patrocínios, mas nada arrecadei. Pode ser que nem seja por falta de qualidade do trabalho, mas por incompetência mesmo nesse quesito de captação. Outro item que me trava é a questão tempo. Quisera eu tivesse talento para transformar minha arte em dinheiro, mas jamais consegui isso. Meus trabalhos quase sempre obtiveram reconhecimento de crítica, são veiculados, mas nada de gerar renda. Nunca consegui ganhar dinheiro com a minha arte. Só consegui me destacar “profissionalmente”, quando misturei essa minha faculdade músical com a publicidade, seja criando jingles e músicas temáticas, textos publicitários ou políticos. Mas voltando ao Verde Terra, tivemos recentemente um novo surto de entusiasmo, com a volta em cena de um membro fundador: o Carlinhos Gipão, irmão do Ricardão. Carlinhos acordou o Verdeterrossauro. Ele tem a teoria de que devemos ir nos reunindo, ensaiando, pensando juntos, pois quando a gente sonha, o universo conspira para que o sonho se realize. Não duvido disso. A questão é que esse entusiasmo coincidiu com um acontecimento que tem me tomado quase todo tempo. Recentemente, como é sabido, assumi a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Monlevade. Assim, tive meu tempo quase que totalmente ocupado. Esse reconhecimento pra mim foi importante, pois me permitirá até criar uma base sólida para futuros trabalhos, mas por outro lado, trouxe grande frustração, pois acabo não tendo no momento o tempo necessário para me dedicar ao projeto Verde Terrano. Meus amigos nutrem grande entusiasmo pelo projeto, sonham com shows, com sucesso e tudo mais. Uns podem chamar de realismo, outros até de pessimismo, mas não consigo enxergar tantos horizontes futuros. Em primeiro lugar, porque em minha opinião, as pessoas hoje em dia não vêm se interessando tanto por conteúdos como os abordados pelo Verde Terra . Segundo, porque os membros já estão todos com mais de 40 e não consigo imaginar que nossas imagens carcomidas pelo tempo possam vender qualquer coisa. Penso que registrar esses trabalhos do Verde Terra teria valor de resgate, inclusive sendo passível de tombamento como memória imaterial pelo patrimônio histórico. Mas primeiro, teria de ser elaborado um projeto voltado para um dos Fundos Nacionais de Cultura e levantar o dinheiro necessário para sua execução, para depois tombar, pois não há como preservar o que ainda nem foi registrado fonograficamente. Meus amigos, Jovelino e Carlinhos, chegaram até a conversar com o prefeito João Galo Índio sobre o assunto, mas sendo sincero novamente, nosso prefeito tem de administrar o dinheiro para a coletividade e não sei até que ponto interessa à nossa comunidade ajudar a bancar o CD de um grupo que foi importante durante os festivais dos anos 80. O único caminho que vislumbro seria através de uma das leis, para reivindicar verbas que até existem na cultura, mas de qualquer maneira, precisaria haver alguém, uma fundação ou ONG que se dispusesse a desenvolver um projeto nesse sentido e a lidar com um enorme cipoal burocrático. E enquanto isso não acontece, o Verdeterrossauro vai voltar a hibernar...e pode ser que nunca mais acorde.