O cenário ideal eram as noites de frio, com serração de cortar com faca.
Os que tinham namoradas, levavam as amadas em casa primeiro e depois iam pra baixada encontrar com o resto do pessoal.
Enquanto esperamos chegar a hora da serenata, ficávamos na praça tomando uns “bravos” e observando os bêbados e lunáticos que sempre habitaram nossas noites.
Tínhamos de esperar passar pelo menos de 1 da manhã para sairmos.
Sempre tinha alguém que estava apaixonado e vinha com encomenda: - Vamos tocar na janela da fulana. Ela falou que iria deixar uma garrafa de vinho pra gente.
As meninas, já sabendo que iríamos fazer serenatas em suas casas, combinavam de dormir umas nas casas das outras. Algumas mais ousadas, costumavam até abrir as janelas e aparecer com suas belas camisolas, mandando beijinhos pro seu amado que estava na serenata com a gente.
Era impressionante a via sacra que fazíamos.
Muitas vezes, começávamos no Souza e terminávamos na Rua São José.
Fazíamos entre 10 e 15 serenatas por noite, além de sairmos tocando pelas ruas .
O silêncio era deliciosamente invadido pelos nossos violões e vozes juvenis.
Acontecia também de passarmos na Padaria pra pegarmos um pão quentinho de manhãzinha. Outro local obrigatório era a casa de Mariângela e Repolês. Quando íamos fazer serenata lá, eles abriam a casa, chamavam a gente pra dentro e abriam as garrafas do que tivessem, fora o tira gosto de primeira. . Uma vez tomei uma cachaça peruana lá que fiquei de ressaca 3 dias. Casal mais gente boa, impossível.
O problema é que nossas serenatas estavam ficando muito concorridas.
Chegou um ponto em que juntavam até 40 pessoas e ficava muito complicado.
Além do mais, os bêbados e os desafinados eram os que cantavam mais alto, atrapalhando tudo.
Tivemos de adotar o artifício de fingir que íamos embora pra casa, deixando os violões escondidos na casa de alguém. Aí, saiamos num grupo menor, só a nata.
Muitas vezes, a polícia também ficava na nossa cola. Uma vez, fizeram uma emboscada e nos cercaram na praça Bias Fortes. Um dos guardas até ameaçou quebrar meu violão. Tive de argumentar com o guarda, dizendo que cantávamos baixinho e que a gente tinha avisado para as meninas, que não perturbaríamos ninguém. Ele nos avisou que fossemos embora e não mais fizéssemos serenata, pois estávamos perturbando a ordem. Essa passagem acabou até virando uma canção.
Muitas coisas engraçadas aconteciam também. Como o dia em que Ricardão e Ronaldinho, pra lá de Bagdá, levaram o maior tombo subindo a avenida. Os dois se machucaram de sangrar, mas a garrafa de vodka e os copos que levavam ficaram intactos.
Não dá pra esquecer também os lanches que as meninas deixavam pra gente, churrasquinhos, espetinhos, kibes, vinhos e cachaças.
Engraçado que certa vez uma menina de BH nos falou: não sei que graça vocês vêem em sair num frio danado tocando para as meninas que estão em seus quartos, quentinhas debaixo do cobertor. Falta de conhecimento histórico da menina. Os homens desde sempre tiveram de adotar milhares de estratagemas românticos para lhes fazer a corte e as serenatas, talvez sejam das formas mais doces de se declarar amor.
Esses casos todos viraram canções e as reuni num CD chamado SERENATA.
No ano passado, cheguei até a lançá-lo em Alvinópolis, mas os ventos sopraram para outros lados e acabei nem fazendo show de lançamento desse CD. Quem sabe a hora seja agora ?
A Mônica Cris, conhecida por muitos como Mônica do Jazz, por outros como Mônica de Maurício, minha amiga de muitos e muitos anos, me sugeriu uma coisa muito interessante: fazer um show e sair depois por uma serenata pelas ruas da cidade. Uma idéia pra lá de boa, como a maioria das idéias da Multimônica.
4 comentários:
Vinda de uma família que adora música, não poderia deixar de fazer meu comentário. Lembro que uma vez, eu tinha 11 anos, recebi uma serenata. Mas como eu era muito envergonhada, nem abri a janela. Minha mãe, toda empolgada, chegou na porta do meu quarto e disse baixinho:
- Minha filha, estão fazendo uma serenata pra você.
E eu querendo me afundar no colchão, de vergonha.
Mas confesso que adorei! E reconheci todos que estava cantarolando. Era os meninos do extinto Protótipo Mental.
Serenatas, sempre são uma delícia! E também não deixei de participar de algumas.
Lembro que saíamos com Carol de Brasilia e Marcela, que sabiam tocar violão, e fazíamos nosso roteiro.
Como é tão bom relembrar coisas tão boas!
Oi Sheila, tudo beleza?
Bacana o seu blog, quando tiver um tempinho acessa o meu também: www.geraldosimoes.blogspot.com
Valeu !!!
Gostaria de convidá-los a visitar o blog: www.serenatamartinonews.blogspot.com/. Lá tem os detalhamentos da produção do CD SERENATA, comentários sobre cada musica e outros causos.
MArtino,
Idéia ótima! Mãos à obram, bróder! Vai ser um temendoi sucesso...
Abraços, Erivelton
PS: Escrevi uma cronica pra vc no meu blog: ocomtexto.blogspot.com
Dá uma conferida lá!
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