Mais uma vez a minha filha sem querer, me levou para uma viagem no tempo.
Ao chegar em casa tristinha, reclamando que algumas crianças mais velhas haviam ameaçado a ela e a uma coleguinha na escola, me fez lembrar meus tempos de craque no antigo campim da rua de cima, onde se localiza hoje a garagem da Lopes e Filhos.
A atividade no campinho começava mais ou menos por volta das 7 da manhã, quando já havia uma fogueirinha acesa e a turma já começava a chegar para a primeira grande peleja do dia. Nessa hora é que os mais novos conseguiam jogar, pois mais ou menos as 9 os mais velhos chegavam e botavam os pirralhos para correr.
O único que desafiava os gigantões era Reinaldo, irmão de Ricardão e Carlinhos Gipão, pois embora mais novo, era avantajado e não tinha medo de ninguém.
Quando ameaçavam tirá-lo ele gritava:
- Ah é? Se eu não jogar, levo as traves de bambu, pois fui eu quem colocou.
E ninguém ousava desafiá-lo.
A turminha nova só tinha chance de novo a partir das 13 horas, com sol de rachar mamona, pois as 15 o campinho voltava a virar terra de gigantes.
Pelo campinho passaram craques memoráveis, como o Travolta da rua de cima Silvinho de Castivilla, o grande Chitão, que era um becão e seu irmão Bené, Paulinho de Ambrosina com seu canhão, Tom João que era tipo uma nuvem passageira, suando, molhando todo mundo e fazendo muitos gols, Manoel de Jaime, também conhecido como Pastel Venenoso, Carlinhos Gipão, com seu potente chute de bicuda, Fernando Taioba, Zinho, Geraldim Pistolinha, Marcelo Xuxa, Ricardão, Amarildo, Ronaldim, Nicolauzim de Vivina, Luiz de Pintacuda ,Gustavo, Piorra, Zé Meié, Totone, entre outros...isso no meu tempo.
Lembro-me de casos engraçados.
Teve uma vez que o time da Rua Nova veio jogar como convidado. Primeiro tempo o time da rua de cima ganhava de um a zero. No intervalo, Luiz de Pintacuda distribuiu Kisuco para o seu time. O time adversário ficou revoltado e virou o jogo no segundo tempo.
Numa outra vez, o time da rua nova voltou para nova partida.
Havia um troféu em disputa.
Desta vez, perderam de 2x1, mas fugiram e levaram o troféu, que nunca mais foi visto.
Engraçado também era o fim das peladas.
Lá pelas 5 da tarde, Dona Ambrosina gritava – Tão João, tá na hora. Vem bora pra ir pra aula, minino!
E Tão João respondia:
- Já vô mãe!
Só que o jávô mãe durava até lá pelas 6 da tarde, quando ninguém mais via a bola, pois já não havia luz. Nesse instante, alguém chutava a bola no esgoto que ficava no fundo das casas. Só se ouvia o baque da bola batendo no rego cheio de rejeitos humanos e um por um ia gritando:
- Parei!
E a bola sobrava para o seu dono buscar, geralmente Manoel de Jaime que tinha melhor situação financeira e sempre tinha uma bola de capota nova.
Uma coisa engraçada aconteceu também comigo.
Certa vez, a bola caiu no mato, perto da casa de Loló e fui buscar. Quando fui pisar num monte bambus pra passar e pegar a bola, um desses bambus pontudo foi projetado e perfurou a minha perna. Peguei a bola e sai para o campinho com aquele bambu ainda agarrado na panturrilha. Quando cheguei com a bola, mostrei pra turma e falei que iria parar, pois estava doendo e tinha um estrepe grande.
Só que como ia desfalcar o time, alguém ironizou, dizendo:
- Ann, muiezinha!
Eu falei:
- Muiezinha não, tá.
Trinquei os dentes, peguei o pedaço de bambu que estava ainda agarrado e puxei com força.
Doeu pra caramba, mas agüentei firme.
Voltei a jogar, pois ser chamado de muiezinha era uma coisa inaceitável.
Como o ferimento foi profundo, o sangue jorrou com força e fiquei todo sujo, mas preferível a dor que ser chamado de muiezinha. Ainda carrego a cicatriz desse dia até hoje, um troféu para o resto da vida.
Legal também era tomar água na fonte de Loló em folhas de taioba e as coceiras que tínhamos por causa dos tombos em cima dos pés de cansanção.
Mas um dia, o campim teve de ceder lugar ao progresso, mais uma vez o lúdico cedendo lugar ao prático.
O campim não existe mais, a não ser em nossas privilegiadas memórias. Com o seu fim, encerrei também a minha gloriosa carreira no futebol.
Depois, ainda cheguei a tentar a sorte no Pinga Rato, onde Barbado reinava absoluto, mas já não tinha futebol suficiente. O campim da rua de cima ficou como mais uma página na vida de muitos de nós, sortudos por ter uma infância tão boa.
Ô saudade, meu Deus!
9 comentários:
Transcrito do Alvinews - Pela Corinha - Vc me fez voltar ao passado com o texto " Memória " falando dos jogos no Campim da Rua de Cima.... vc esqueceu de outras coisas boas que acontecia naquele Campim...lembra, era lá que armavam as lonas de Circos, onde nos divertíamos a valer e também os parques de diversão com aquelas rodas gigantes pingando aos pedaços e a gente achava que era a maior montanha russa do mundo, e os dangles americanos, sentávamos naquelas cadeirinhas de ferro, sujas e frias, ficávamos rodando no ar até descermos tontos e pondo tudo prá fora.... velhos tempos que não voltam mais, que viraram apenas histórias para nossos filhos que infelizmente nos tempos atuais não tem a infância que outrora tivemos.
Minha resposta: Valeu Corinha. Você lembrou muito bem. No campinho da Rua de Cima tivemos circos fantásticos. Quem não se lembra quando os trapalhões passaram por ali, inclusive com a presença do astro das lutas, TED BOY MARINO. Tivemos oportunidade de ver também o Verdugo e o Tito Copa. Por ali também passaram touradas sensacionais e muitos parques. Lembro-me que conheci os telejogos ali e fiquei fascinado com aquele que foi o percussor dos Playstations, que hoje alucinam a galerinha. Por falar nisso, a Prefeitura bem que poderia disponibilizar alguma área para esses espetáculos mambembes que vão de cidade para cidade. É diversão garantida principalmente para crianças de todas as idades.
Marcos,
Embora trabalhe em Belo Hte, já há quase 19 anos na mesma empresa graças a DEUS, escolhi para morar a acolhedora cidade de Mateus Leme, muito parecida com Alvinópolis ( acho que esse foi o motivo de me mudar para lá).
Tudo me faz lembrar Alvinópolis, moro a 10 min do centro, em um bairro de sitios, chácaras e pousadas e pra minha felicidade a 1ª coisa que vejo ao sair de casa as 04:30 da madruga com destino a BH, é um curral cheio de vacas e caseiro tirando leite. Como toda cidade as vezes a administração deixa a desejar em alguns pontos, mas Mateus Leme não perdeu sua originalidade. Há um mês atrás tivemos um circo na cidade, com o tradicional Globo da Morte, ouvir o ronco daquelas motos deu até frio na espinha... parquinhos de diversão sempre chegam por lá e acredite , eu ainda ando na roda gigante. Temos a tradicional festa de junho, uma festa religiosa que comemora o dia de Santo Antonio padroeiro da cidade, festa linda tanto no sentido religioso quanto no cultural... imagine só a cidade cheia de gente bonita, barraquinhas vendendo de tudo, shows gratuitos na praça, realmente parece que estou em Alvinópolis, mas me resta apenas saudades de tudo e de todos que por lá deixei.
Um abraço e até mais.
Õ MEU AMIGO DO CAMPINHO EU ME LEMBRO DE TANTAS COISAS, DO BÕDE QUE COMIA QUIMBA DE CIGARRO FAZENDO CONCORRÊNCIA COM ARNALDIM, DO MORENITO TENTANDO A MONTARIA NO TOURO E DEPOIS AINDA O SEGURAVA PELO BEIÇO, NÃO SEI COMO ELE FAZIA MAS COLOCAVA SUA BÕCA NA BÕCA DO BOI, E O BOI FICAVA QUIETINHO, Õ MORENITO DANADO, DO MARCELO DE MUNDECO NO CIRCO PULANDO DO TRAPÉZIO, DA GENTE ANDANDO ATRÁS DO PALHAÇO DO CIRCO PRA GANHAR INGRESSO, HOJE TEM HOJE TEM, TEM SIM SENHOR, SAUDADES
Marcos, tenho lido os teus textos,todos tem me levado a viajar no tempo,sentir muita saudades,em especial o campinho.Ali viví momentos felizes,alí fiz grandes amigos, uma dó que não existe mais,mas voçe com tua alma e sencibilidade de poeta me levou numa viagem no tempo...obrigado...continui nos presenteando com teus textos...abração do primo Luiz
O campinho de futebol da Rua de Cima tem suas histórias. A minha por exemplo era a do pior jogador do mundo, mas que sabia cabecear bem e não perdia um gol de cabeça. Não era dado a correr muito e ficava rondando a área à espera de cruzamentos. Bola cruzada era gol de Gustavo na certa. Os jogos no campinho aconteciam todas as tardes, E o mais interessante e que ninguém se lembrou era do Biziu com sua perna manca jogando no goal tal qual um craque de uma perna só. E do Hermes do Dico Leite, certa feita, após um desentendimento normal em futebol foi à sua casa buscar um revólver para matar Zezinho de José Rezende que tal qual um guerreiro espartano abriu o peito da camisa e disse a "meu Hermes": Matai-me guerreiro... É claro que ninguém morreu pois o Hermes além de não ter coragem de atirar esqueceu as balas do revólver, um 38 de dar medo ao Clint Eastwood. O campinho da Rua de cima faz parte de nossa formação juvenil e sempre será inesquecível, numa cidade que na época não primava pelo apoio aos jovens esportistas. Faz parte de nossas vidas, de nosso conhecimento como colegas e amigos e como um dos primeiros locais de preparo físico e moral dos jovens envolvidos neste projeto. A Lopes deveria colocar alí um marco onde constasse que ali ficava este ultimo bastião de nossas memórias e que foi o primeiro local de reunião dos jovens Alvinopolenses. E que o campinho cedeu lugar para a força do capitalismo tupiniquim. A esta confraria de jovens amigos restam as boas lembranças deste marco indelével de nossas vidas!... E acrescente-se a isto tudo às jovens filhas do José Nardy, nossas belas torcedoras!...
Com o relato de algumas pessoas, o tópico enriquece e muito. Gustavo lembrou muito bem. Existem personagens fantásticos. Esqueci por exemplo de citar o Totone, que ficava picando pedaços de bambu e falando coisas absurdas, faltou citar também Dedelson e Cuca de Dico Leite. Tinha também os churrasquinhos de bundas de tanajura. Cada história fantástica. Espero que mais pessoas venham enriquecer o tópico. Essa que o Gustavo contou do Hermes com Zezim de Zé Resende nem eu sabia. Tinha também os visitantes ilustres, que eram fominhas e costumavam visitar o campinho, como Marcinho de Seu Zé, Dolfo de Zé Cal, Ubaldo. Ah...teve um dia também que Dico de Caitanim me deu dez chapeuzinhos. Toda vez que encontro com ele tem de lembrar disso. É duro viu!
Eu lembro docampinho da rua de cima. Claro que não com tantasriquezas de detalhes, mas morei no porão da casa de vó Castivila até por volta dos 3 anos e certa vez lembro de um circo que se instalou por lá. Sei que meu pai e minha mãe ficaram falando o dia inteiro do tal circo que iriam me levar. Mas quando vi o palhaço, a diversão dos meus pais acabaram. Não tinha ninguém que segurasse meus berros de medo. Tenho a vaga lembrança de menos de 10 minutos depois de saído de casa para ir ao circo, eu na minha cama indo dormir...
Saudade. Saudade... dos alegres tempos não do campinho da Rua de Cima, mas do campinho da minha vida, guardado com muito carinho na memória. Ali, com certeza, passei os melhores momentos que jamais serão superados em minha vida. Ali, fiz amigos inesquecíveis que infelizmente a distancia deixou no tempo perdido pelas esquinas da vida. Como esquecer aquelas peladas memoráveis, onde sentíamos como verdadeiros craques de um jogo onde nós mesmos éramos era a platéia e que ainda hoje grita e aplaude como se o tempo não estivesse passado.
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