Comove-me ver a minha filha toda emocionada por causa do natal. Passa o dia vigiando qualquer ruído pela casa, imaginando que o bom velhinho vai entrar por alguma fresta e deixar o presente que ela tanto almeja. Ela tem um cuidado todo especial com a árvore, com os enfeites e como todas as mulheres, que são muito mais estetas que nós, vive intensamente a beleza natalina. A tecnologia trouxe adereços jamais sonhados por nós que temos entre 40 e 45 anos. Hoje o pessoal faz arranjos de altíssima tecnologia, usando vários computadores para construir árvores mutantes, árvores publicitárias, marketeiras e dá-lhe merchandising de todo jeito. Nessa massaroca, pelos menos salva-se o Natal promovido em Monlevade, maravilhoso em termos estéticos e politicamente correto, todo feito em material reciclável (55.000 garrafas pet que iriam para o lixo). Nós coroas ( reis e príncipes) também vivenciamos nossas emoções natalinas , mas de forma mais humilde. Lembro-me dos natais de minha infância em Alvinópolis, nos final dos anos 60, inicio dos anos 70. Daquele tempo, tenho uma lembrança marcante e muitos dessa época vão se lembrar: dos papéis azuis que vinham embalando as maçãs. Nesse tempo, quando a globalização ainda não se fazia presente, maçã era uma fruta rara, quase só aparecia na época do natal, assim como o figo. A primeira vez que peguei uma maçã, embalada naquele papel que parecia feltro, fiquei inebriado pelo aroma da fruta, que só conhecia dos desenhos animados e revistas da branca de neve. Dos natais daquele tempo, lembro-me também que ficava em casa, tentando ficar acordado para ver a hora que o Papai Noel entrava. Quase sempre adormecia e quando acordava de manhã, lá estava o presente aos pés da árvore. Naquele tempo não tinha esse negócio da gente escolher o presente. Os pais saiam na madrugada do dia 24 pro dia 25, quando todo o comércio ficava aberto e traziam os presentes, muitas vezes aproveitando para passar num boteco e tomar uma. Certa vez, tive a certeza de enxergar um velhinho atrás do meu guarda-roupa. Eu não sabia se ficava com medo ou se acenava pro velinho. Timidamente, me escondia debaixo dos cobertores, mas lá estava o velhinho barbudo me olhando e rindo. Fiquei na dúvida se sonhei ou se foi real. Imaginei que fosse o Papai Noel se escondendo de mim, mas também pode ter sido o espírito de Orlando Lima ( quem sabe os espíritas expliquem?).
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
sábado, 5 de dezembro de 2009
ADEUS, MARINHA!
Uma coisa que nos choca profundamente é a morte. Seja a morte de um cão, de um cavalo, de um passarinho. Se for de um ser humano então, nem se fala. Mas também dói quando algumas memórias perdem substancia material e sobrevivem apenas em fotografias. Ficam que nem espíritos vagando sem corpos. Digo isso para falar da sede do industrial. Estive em Alvinópolis para prestigiar a inauguração das luzes de natal, mas o que me chocou mesmo foi ver que o Industrial transformou-se em igreja evangélica. O nome parece ser Igreja Mundial do Reino de Deus. É curioso como surgem a cada dia novas igrejas com denominações diferentes. Igreja quadrangular, retangular, pentecostal, batista, anglicana, presbiteriana, maranata, regional, estadual, nacional, mundial, igreja pra todo gosto e bolso. Aqui em Belo Horizonte, o fenômeno também é visível. Vários cinemas tradicionais foram adquiridos pelos evangélicos, que garantem freqüência e renda, possibilitando a manutenção dos espaços e sua sobrevivência material. Mas quando a gente aperta o retrocesso da memória, dói pra caramba. Quantos espetáculos gloriosos aconteceram naquele clube. Lembro-me de maravilhosos bailes das misses, de aniversário, shows com Marco Antonio Araújo, com Cassinos de Sevilha, além da sensacional discoteca, com uma estrutura marcante em nível regional. Lembro-me também dos carnavais, de figuras como Adairim, Bia, Zé Nosso, Lalau, Paulo Andrade, entre tantos outros. Além do clube, havia o futebol, que montou alguns dos melhores times na região, verdadeiro celeiro de craques. Mas o clube está morrendo. Parece que a Cia Fabril Mascarenhas parou de apoiar e sem sustentação financeira, o azulão da baixada não consegue se manter de pé. Além do mais, as gerações antigas mantinham aquilo com amor e a nova geração não tem essa cultura de paixão pelo clube. É lamentável, mas parece que o Industrial está morrendo. Quem dera se Lindouro, Vera e a sua BioExtratus resolvessem apoiar o clube azul, já que a tradicional fábrica de panos não se interessa mais. Mas isso até agora, fica só no quem dera...Não adianta nem pedir pra Deus, pois lá virou exatamente uma casa Dele. De certa forma, todos somos culpados, por não prestigiarmos nem pensarmos em preservar nossas tradições. Resta-nos cantar tristemente o hino pela última vez: ADEUS, MARINHA, pois seu marinheiro não vai mais voltar....