quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

OS NATAIS E OS PAPÉIS AZUIS DAS MAÇÃS


Comove-me ver a minha filha toda emocionada por causa do natal. Passa o dia vigiando qualquer ruído pela casa, imaginando que o bom velhinho vai entrar por alguma fresta e deixar o presente que ela tanto almeja. Ela tem um cuidado todo especial com a árvore, com os enfeites e como todas as mulheres, que são muito mais estetas que nós, vive intensamente a beleza natalina. A tecnologia trouxe adereços jamais sonhados por nós que temos entre 40 e 45 anos. Hoje o pessoal faz arranjos de altíssima tecnologia, usando vários computadores para construir árvores mutantes, árvores publicitárias, marketeiras e dá-lhe merchandising de todo jeito. Nessa massaroca, pelos menos salva-se o Natal promovido em Monlevade, maravilhoso em termos estéticos e politicamente correto, todo feito em material reciclável (55.000 garrafas pet que iriam para o lixo). Nós coroas ( reis e príncipes) também vivenciamos nossas emoções natalinas , mas de forma mais humilde. Lembro-me dos natais de minha infância em Alvinópolis, nos final dos anos 60, inicio dos anos 70. Daquele tempo, tenho uma lembrança marcante e muitos dessa época vão se lembrar: dos papéis azuis que vinham embalando as maçãs. Nesse tempo, quando a globalização ainda não se fazia presente, maçã era uma fruta rara, quase só aparecia na época do natal, assim como o figo. A primeira vez que peguei uma maçã, embalada naquele papel que parecia feltro, fiquei inebriado pelo aroma da fruta, que só conhecia dos desenhos animados e revistas da branca de neve. Dos natais daquele tempo, lembro-me também que ficava em casa, tentando ficar acordado para ver a hora que o Papai Noel entrava. Quase sempre adormecia e quando acordava de manhã, lá estava o presente aos pés da árvore. Naquele tempo não tinha esse negócio da gente escolher o presente. Os pais saiam na madrugada do dia 24 pro dia 25, quando todo o comércio ficava aberto e traziam os presentes, muitas vezes aproveitando para passar num boteco e tomar uma. Certa vez, tive a certeza de enxergar um velhinho atrás do meu guarda-roupa. Eu não sabia se ficava com medo ou se acenava pro velinho. Timidamente, me escondia debaixo dos cobertores, mas lá estava o velhinho barbudo me olhando e rindo. Fiquei na dúvida se sonhei ou se foi real. Imaginei que fosse o Papai Noel se escondendo de mim, mas também pode ter sido o espírito de Orlando Lima ( quem sabe os espíritas expliquem?).

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