sábado, 23 de janeiro de 2010

FRAGMENTOS DE SAUDADES

Das conversas na porta do chiquito, de madrugada,
olhando desconfiado para a cruz defronte a igreja do Rosário.
Das serenatas noite à dentro, com neblina de cortar com faca.
Do doce de Mamão com Rapadura da Julieta do Passarinho.
De Zé de Chico passando de madrugada,
com rádio ligado, ouvindo rádios estrangeiras.
Do padeiro passando de manhãzinha e gritando:
Aoooo padeiro!
Das caminhadas pelas cercanias da cidade,
com Luizim Parreco, Junim do Alvinews, Rogério e outros.
Do futebol no campinho da rua de cima,
da turma que chegava as 7 da manhã
e ficava que nem churrasquinho,
rodando em volta de uma fogueira,
procurando um pouquinho de luz
pra quentar sol.
Da meninada quicando
a bola de capota no chão
e gritando: Olha a bola...
Do barulho da bola batendo
dentro do rêgo no fundo dos quintais.
Dos sinos do relógio da matriz,
metrônomo das nossas vidas.
Do sorvete no bar 2001,
numa época em que não havia kibon
nem nestlé.
Dos parques de diversão e circos,
do cinema do seu Miltinho,
do Celmo
e todos os cineminhas
de caixinha de sapato.
Do grande The Big,
o maior campeonato
de futebol de botão do planeta,
que acontecia na casa do Marcelo Xuxa.
Da grama da praça da baixada,
dos tempos em que havia grama,
quando dava pra deitar e rolar.
Do refresco de Abacaxi do Muado.
De todas as sinuquinhas da cidade.
De minha mãe,
a pessoa mais delicada do mundo.
Do meu pai,
a pessoa mais honesta do mundo.
Dos meus irmãos
( anéis mágicos, entrem em ação)
Dos meus parentes italianos,
falantes, bravos
e extremamente criativos.
Dos parentes
Carvalho Souza Abreu Lima,
pioneiros, unidos e tradicionais.
Dos amigos todos,
que gostaria de abraçar e abraço agora,
pelo menos metafisicamente.
Do que eu fui
e que ainda sou,
pelo menos enquanto escrevo.
Dizem que na hora da morte,
a gente revê toda a vida.
Então,
morro um pouquinho todo dia,
pois tenho meus feedbacks
induzidos.
Dizem que não existe o passado.
Só o presente - que já é passado - e o futuro.
Se o passado é uma ilusão, vivo a ilusão.
Não do que virá...mas do que se foi.
É como se fosse uma fonte
onde vou buscar poesia
pra regar a aridez
da rotina.

Um comentário:

Corinha Policarpo disse...

Saudade , quanta saudade....
Lembrar de D. Julieta do Passarinho me fez voltar ao passado, passado este que vive presente em minha memória. Café adoçado com rapadura, sopa de macarrão com coloral, luz de lamparina, panelas de aluminio que mais pareciam um espelho, lavadas na bica de um poço d'agua , ariadas com areia, cinza e sabão feito em casa...Saudades , sempre saudades..........